O juiz Alcides da
Fonseca Neto, da 11ª Vara Criminal da Capital, condenou, por
estelionato, a sete anos e seis meses de prisão, em regime semiaberto, a
falsa psicóloga Beatriz da Silva Cunha. Por cerca de oito anos, ela
enganou dezenas de famílias que buscavam tratamento para os filhos
diagnosticados com autismo na clínica que possuía em Botafogo, Zona Sul
do Rio.
Na decisão, o magistrado
afirmou que o conjunto probatório dos autos torna incontestável a
autoria, imputada á ré, dos 29 delitos cometidos contra as crianças
“atendidas” e suas famílias. “No que tange à acusada, o conjunto
probatório colacionado ao processo é contundente quanto ao seu obrar
criminoso, no que concerne aos vinte e nove crimes de estelionato
cometidos contra os pais das crianças por ela ‘atendidas’. A
materialidade e autoria dos delitos patrimoniais findaram devidamente
comprovadas diante da vasta e relevante prova oral amealhada no curso da
instrução criminal, aliada à prova documental anexada. De fato, da
análise de todos os elementos de prova, foi plenamente possível
demonstrar, de modo iniludível, que a acusada montou um complexo e
engenhoso ardil, através do qual logrou amplo sucesso para induzir em
erro os pais de vinte e nove crianças inocentes, da mais tenra idade,
com o objetivo de obter, para si, vantagem indevida, com a consequente
obtenção de prejuízo econômico dos apontados representantes legais das
crianças”, afirmou.
O juiz também
descreveu como audacioso e pérfido o plano elaborado pela ré Beatriz
Cunha para a execução do seu crime, utilizando-se de maciça propaganda
para divulgar a “excelência” da clínica e a “grandeza” do seu trabalho
especializado, além de se mostrar surpreso com tamanha engenhosidade.
“No desenvolvimento de seu pérfido plano, Beatriz constituiu a sociedade
empresária CENACOMP (Centro de Análise do Comportamento). Para tanto,
difundia o emprego do método denominado ABA (Applied Behavior Analysys),
que se traduzia numa forma ‘moderníssima’ de controle dos
comportamentos consequentes das crianças com a utilização de técnicas
comportamentais muito bem estruturadas. Ou seja, a esperteza, a audácia,
a dissimulação e o cinismo consistiam em alardear o domínio e o emprego
de um método moderno para o tratamento da síndrome do autismo, de modo
que então ela começou a ser procurada por diversos pais de crianças
aparentemente portadoras da referida síndrome, todos crentes e
esperançosos na melhora do quadro clínico de seus filhos. Desta maneira,
em pouco tempo atraiu, enganou e angariou vários pacientes, de maneira
que, assim, foi construindo um perfil sólido de profissional gabaritada e
experiente na arte de tratar crianças inocentes, vítimas de um
distúrbio. Na verdade, sou juiz há exatos vinte anos e seis meses e
jamais me deparei com a prática de crimes patrimoniais tão bem
estruturados e tão metodicamente executados”, declarou. Nelson Antunes
de Faria Júnior, companheiro de Beatriz e réu no processo, foi absolvido
por falta de provas.
Fonte: TJ-RJ
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