sábado, 29 de junho de 2013

A Pobreza da Riqueza - por Cristóvam Buarque

A pobreza da riqueza

Por Cristóvam Buarque



"Em nenhum outro país os ricos demonstram mais ostentação que no Brasil. Apesar disso, os brasileiros ricos são pobres. São pobres porque compram sofisticados automóveis importados, com todos os exagerados equipamentos da modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos ônibus de subúrbio. E, às vezes, são assaltados, seqüestrados ou mortos nos sinais de trânsito. Presenteiam belos
carros a seus filhos e não voltam a dormir tranqüilos enquanto eles não chegam em casa. Pagam fortunas para construir modernas mansões,desenhadas por arquitetos de renome, e são obrigados a escondê-las atrás de grades ou muralhas, como se vivessem nos tempos dos castelos medievais, dependendo de guardas que se revezam em turnos.

Os ricos brasileiros usufruem privadamente tudo o que a riqueza lhes oferece, mas vivem encalacrados na pobreza social.

Na sexta-feira, saem de noite para jantar em restaurantes tão caros que os ricos da Europa não conseguiriam freqüentar, mas perdem o apetite diante da pobreza que ali por perto arregala os olhos pedindo um pouco de pão; ou são obrigados a restaurantes fechados, cercados e protegidos por policiais privados. Quando terminam de comer escondidos, são obrigados a tomar o carro à porta, trazido por um
manobrista, sem o prazer de caminhar pela rua, ir a um cinema ou teatro, depois continuar até um bar para conversar sobre o que viram.
Mesmo assim, não é raro que o pobre rico seja assaltado antes de terminar o jantar, ou depois, a caminho de casa. Felizmente isso nem sempre acontece, mas certamente, a viagem é um susto durante todo o caminho. E, às vezes, o sobressalto continua, mesmo dentro de casa ou apartamento.

Os ricos brasileiros são pobres de tanto medo. Por mais riquezas que acumulem no presente, são pobres na falta de segurança para usufruir o patrimônio no futuro. E vivem no susto permanente diante das incertezas em que os filhos crescerão. Os ricos brasileiros continuam pobres de tanto gastar dinheiro apenas para corrigir os
desacertos criados pela desigualdade que suas riquezas provocam: em insegurança e ineficiência.

No lugar de usufruir tudo aquilo com que gastam, uma parte considerável do dinheiro nada adquire, serve apenas para evitar perdas. Por causa da pobreza ao redor, os brasileiros ricos vivem um paradoxo: para ficarem mais ricos têm de perder dinheiro, gastando cada vez mais apenas para se proteger da realidade hostil e ineficiente, consequência da injustiça social.

A pobreza de visão dos ricos impediu também de verem a riqueza que há na cabeça de um povo educado. Ao longo de toda a nossa história, os nossos ricos abandonaram a educação do povo, desviaram os recursos para criar a riqueza que seria só deles, e ficaram pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade, investem em modernos equipamentos e não encontram quem os saiba manejar, vivem rodeados de
compatriotas que não sambem ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não sabem construir um novo país que beneficie a todos. Muito mais ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade onde todos fossem educados.

Para poderem usar os seus caros automóveis, os ricos construíram viadutos com dinheiro de colocar água e esgoto nas cidades, achando que, ao comprar água mineral, se protegiam das doenças dos pobres.
Esqueceram-se de que precisam desses pobres e não podem contar com eles todos os dias e com toda saúde, porque eles (os pobres) vivem sem água e sem esgoto. Montam modernos hospitais, mas tem dificuldades em evitar infecções porque os pobres trazem de casa os germes que os contaminam. Com a pobreza de achar que poderiam ficar ricos sozinhos, construíram um país doente e vivem no meio da doença.

Há um grave quadro de pobreza entre os ricos brasileiros. E esta pobreza é tão grave que a maior parte deles não percebe. Por isso a pobreza de espírito tem sido o maior inspirador das decisões governamentais das pobres ricas elites brasileiras.

Se percebessem a riqueza potencial que há nos braços e nos cérebros dos pobres, os ricos brasileiros poderiam reorientar o modelo de desenvolvimento em direção aos interesses de nossas massas populares.
Liberariam a terra para os trabalhadores rurais, realizariam um programa de construção de casas e implantação de redes de água e esgoto, contratariam centenas de milhares de professores e colocariam o povo para produzir para o próprio povo. Esta seria uma decisão que enriqueceria o Brasil inteiro - os pobres que sairiam da pobreza e os ricos que sairiam da vergonha, da insegurança e da insensatez.

Mas isso é esperar demais.

Os ricos são tão pobres que não percebem a triste pobreza em que usufruem suas malditas riquezas."

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Estacionamento terá que aguardar até 40 minutos, após fechamento

Rio - Aprovado na Alerj Projeto de Lei que garante cuidados aos usuários de estacionamentos no Estado do Rio de Janeiro.

Projeto de Lei do Deputado Marcos Soares, aprovado nesta quinta (27), garante aos usuários de estacionamentos garantias básicas, antes não observadas pelos detentores do serviço.

"Não é raro o usuário ser surpreendido no momento em que vai buscar seu veículo e encontrar o estacionamento fechado sem que houvesse alerta ou aviso do horário do encerramento do expediente" - Diz o Deputado Marcos Soares, autor da proposta
Pela nova regra, no verso do tíquete de estacionamento constarão as condições do uso do estacionamento, com o horário de fechamento do mesmo, sendo obrigatório ao detentor do serviço aguardar o condutor do veículo no mínimo até quarenta minutos após o fechamento.

E mais, para os detentores do serviço, cuja cobrança se dá através de cartão automatizado, será obrigatória a disponibilização de informação do horário de entrada de forma inequívoca e visível, bem como o horário de fechamento do estacionamento.

O projeto foi foi aprovado e agora segue para o governador Ségio Cabral, que terá prazo para sancionar ou vetar a proposta legislativa.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Tudo continua como dantes no quartel de abrantes - PEC 37

O PEC 37 - Projeto de Emenda Constitucional, votado na noite da terça-feira (25), trouxe algumas realidades difíceis de serem mudadas em nosso querido Brasil.
Se há câmeras e luzes, se há platéia e foco, tenham certeza que o parlamentar vai arrumar um modo de votar segundo os aplausos da galeria.
E foi isso que assistimos. A proposição legislativa em questão, aprovada ou não (e acabou não sendo), não modificaria em nada o resultado do entendimento consubstanciado na Constituição da República Federativa do Brasil.
Na verdade, seria patético aprovar algo que tornaria o dispositivo constitucional do artigo 144 redundante, ou seja, conferir às polícias um poder que já esta preceituado.
Por outro lado, a não aprovação não garante ao Ministério Público o poder de investigação, isto pelo fato de não haver um Projeto de Emenda Constitucional que garanta tal poder, e o artigo 129 da Constituição Federal apontar que aos promotores cabe o controle externo das investigações.
O constituinte originário foi sábio ao definir que aquele que investiga (Polícia judiciária), não acusa (Ministério Público), e quem acusa, não julga (Estado-juiz).
Sendo assim, aprovando ou não o PEC 37 (não foi aprovado), "tudo permanece como dantes no quartel de abrantes".
Contudo, o povo saiu cantando vitória ao som do Hino Nacional Brasileiro. E de fato, ganhou mesmo: - o maior cala povo (boca) dos últimos tempos!
Essa realidade é difícil de mudar no Brasil: o cala povo.
Essa realidade é difícil de mudar no Brasil: o parlamentar pra platéia.
Mas, nem tudo está perdido. Havia ali 9 sinceros ou quem sabe desatentos, que votaram de forma diversa dos 430 votos pelo arquivamento do PEC 37.
O povo saiu da votação com a certeza de que seu time ganhou, e de goleada. E se pensarmos bem, foi melhor assim. O povo satisfeito, "o grito das ruas" conseguindo mais uma "vitória", e por fim, "tudo continua como dantes no quartel de abrantes".

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Falta de luz e indenização - uma festa!

Dando parcial provimento ao recurso, os desembargadores da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro reformaram, à unanimidade, a sentença da 19ª Vara Cível da Comarca da Capital que condenou a Tudo Bem Rio Eventos Ltda. a indenizar um casal por danos morais e materiais. Os magistrados reduziram o valor da indenização para um total de R$ 14.650,00.

Segundo os autos, houve queda de energia elétrica em diversos pontos da casa de festas da Tudo Bem Rio, localizada no bairro de Botafogo, onde o casal autor da ação realizava o aniversário de sua filha. A falta de energia provocou, consequentemente, a interrupção do funcionamento dos aparelhos de ar-condicionado, bem como o desligamento de todos os brinquedos elétricos. A ausência de iluminação também levou à interrupção dos serviços na cozinha, causando grande desconforto nos convidados, inclusive nas crianças. Após mais de uma hora sem energia, as pessoas começaram a ir embora e, ao perceberem que não havia mais condições físicas e psicológicas para prosseguir, os pais da menina optaram por encerrar a festa.

A Tudo Bem Rio Eventos alegou, em sua defesa, que a queda de energia não ocorreu por culpa sua, mas sim por responsabilidade exclusiva de terceiro, ou seja, da distribuidora de energia LIGHT. A empresa frisa ainda que efetuou diversas manobras para minimizar o desconforto gerado pelo incidente, pois, ainda que a queda de energia tenha impossibilitado a utilização de alguns aparelhos, a casa passou a funcionar com luzes de emergência, o que, de acordo com seus representantes, não causou qualquer prejuízo à continuidade do evento.

“Em se tratando de responsabilidade pelo fato do serviço, competia à empresa ter comprovado a inexistência de defeito na sua prestação ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros, inexistindo nos autos qualquer prova de que o serviço foi prestado de forma satisfatória e regular”, destacou o desembargador-relator da decisão, Adriano Celso Guimarães. “Fica evidenciado, portanto, que a empresa não adotou as medidas necessárias para evitar tal incidente.”

Dessa forma, a empresa terá de restituir a importância paga pelo casal para a realização da festa, a título de danos materiais, no valor de R$ 4.650,00, e ainda pagará uma indenização, por danos morais, no valor de R$ 10 mil. “Resta comprovado que o descaso da Tudo Bem Rio Eventos Ltda. com a manutenção dos componentes relacionados à energia elétrica trouxe como consequência o defeito na prestação do serviço, consolidando o dever de indenizar, em virtude dos constrangimentos por que passaram os autores”, concluiu o magistrado.
Fonte: TJ/RJ